A trajetória dos irmãos João (1879 – 1932) e Arthur (1882 – 1922) Timótheo da Costa será contada e cantada no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte, CCBB BH, entre os dias 24/10 e 17/11, às 20h. O espetáculo “Os Irmãos Timótheo da Costa”, dirigido por Luiz Antonio Pilar, com dramaturgia de Claudia Valli e direção musical de Muato, é mais um resgate de nomes da cultura preta nacional apagados pelo racismo. “Trata-se de uma peça decolonial, um nome bonito para a retomada da narrativa da história de pretos e indígenas, sendo contada por artistas e pensadores pretos e indígenas. É trazer à luz os heróis e artistas melaninados e originários colocando-os no palco, nas pautas e nas conversas”, diz o diretor do espetáculo. A peça será apresentada de sexta a domingo, com ingressos no valor de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), e podem ser comprados a partir de 15/10 no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH. A classificação indicativa é 12 anos.
Em cena, Irene, vivida por Jeniffer Dias (indicada ao Prêmio Potências, em 2022 por sua atuação na série do Globoplay “Rensga Hits”), é uma pesquisadora contemporânea empenhada em escrever uma peça sobre os irmãos Timótheo da Costa, de quem ela ouviu falar uma vez e nunca esqueceu. Para isso, ela precisa pesquisar suas vidas e descobre que, como tantos outros personagens negros, eles foram apagados da história e quase não há material sobre eles, apenas um pesquisador que focou na obra e não na vida dos irmãos. Irene vai desvendando suas histórias e chega à realidade do negro pós-abolição na então capital federal, ao racismo da Belle Époque carioca, à hipocrisia da sociedade racista, à epidemia de doenças mentais de pessoas pretas entre o final do século XIX e o começo do século XX. Realidade e ficção se misturam, já que não há dados suficientes sobre a vida dos irmãos Timótheo da Costa. Sendo assim, essa história será criada no palco, em uma obra no estilo de quase biografia. O elenco conta também com Lucas da Purificação (que atuou na série Impuros, da Disney Plus), Luciano Quirino (fez participação no elenco da novela “Êta, mundo melhor!”, das 18h), Pablo Áscoli (interpretou César Camargo Mariano em “Elis, a musical”) e Sérgio Kauffmann (atuou na novela “Garota do momento”, 2024/2025).
Em formato de musical, o espetáculo é uma jornada, um caminho, uma investigação sobre a vida e obra dos irmãos João e Arthur Timótheo da Costa, que figuram entre os nomes mais destacados de pintores da cena artística brasileira, nas duas primeiras décadas do século XX. Eles sofreram o preconceito da sociedade e ambos, com um intervalo de dez anos, morreram internos com a mesma doença, a demência paralítica, no Hospital dos Alienados, no Rio de Janeiro. Mesmo lugar que o grande escritor Lima Barreto foi internado e que era dirigido por Dr. Juliano Moreira, médico preto, pioneiro da psiquiatria e da saúde mental no Brasil e que combatia o racismo científico.
A dramaturga Cláudia Valli, que soma 39 anos de carreira com trabalhos na Rede Globo e Record e nos canais Multishow, Canal Futura, Prime Box Brasil, entre outros, observa que “somos até capazes de superar o ódio, o desprezo, a violência, mas o esquecimento é insuperável, pois ele nos trata como se nunca tivéssemos sido”. Por isso, a importância de trazer à baila uma peça que resgata parte extirpada pelo apagamento desses nomes fundamentais da cultura nacional. “O esquecimento e o apagamento são sentimentos irmãos que cospem na nossa cara a rejeição de toda uma sociedade. De toda uma história. Você não é porque não merece ser. Você não é porque não faz parte de nós”, explica a dramaturga. Tal feito, o de apagar a presença de pessoas da história pelo fato de não obedecerem a padrões impostos pelo eurocentrismo, acaba por esconder a genialidade de indivíduos que contribuíram para a construção do país. “Os dois, precursores do Modernismo Brasileiro, foram esquecidos pela Semana de 22. E, aos poucos, foram apagados da História da Arte Brasileira. Assim como o avô deles, o genial maestro Henrique Alves de Mesquita, que foi de músico de maior destaque nacional e internacional ao mais absoluto esquecimento”, lembra Cláudia.
Para o diretor Luiz Antônio Pilar, já virou uma missão criar espetáculos com a narrativa decolonial. “Recentemente, um crítico me definiu como ‘um mestre em retratar histórias de grandes artistas, como Candeia, Ataulfo Alves, Leci Brandão, entre outros, não só no teatro, mas também na tv e no cinema’. De fato, tenho feito espetáculos sobre diversas personalidades pretas, homens e mulheres, artistas ou não”, diz o diretor que foi reconhecido na 34ª edição do Prêmio Shell na categoria direção pelo musical "Leci Brandão – Na Palma da Mão". Dessa forma, por meio da história de tantos grandes nomes da arte preta nacional, nota-se que todos passam pelas mesmas situações de constrangimento por conta do racismo e isso une a todos numa mesma trajetória. “Percebi que trazer para o palco a história dessas pessoas que me inspiraram, de certa maneira também compartilho com elas tudo aquilo que eu já passei”, atesta Pilar. Mas, é importante ressaltar que o objetivo não é colocar esses personagens no lugar de coitados. “A história que vamos contar é uma investigação. Vamos descobrir quem foram os irmãos Timótheo da Costa, além do apagamento”, vaticina o diretor.
A trilha sonora do espetáculo traz a música do avô dos irmãos Timótheo da Costa, o maestro Henrique Alves de Mesquita. “As músicas deste grande de maestro serão executadas ao vivo, e algumas canções receberão letras inéditas e serão cantadas em cena. Outras serão executadas como trilha sonora instrumental pelos músicos que compõe a orquestra do espetáculo”, revela Muato, diretor musical do espetáculo e vencedor do Prêmio Shell 2024, pela direção musical de “Pelada – A Hora da Gaymada”.
Além de uma bela e instigante dramaturgia, “Os Irmãos Timótheo da Costa”, p leva para o público toda a realidade dos pretos no país do final do século XIX e início do século XX, logo após a abolição. Mas também apresenta que essa realidade, de apagamento e racismo, ainda é presente e intensa na sociedade e, muitas vezes, leva à depressão e loucura. “Por isso, tantos homens pretos (e mulheres também) surtaram ao vislumbrar o ‘não futuro’ pela frente. Eles não tinham a menor chance. A não ser lotar os hospícios ou os presídios da cidade. O sucesso não supera o racismo”, diz a dramaturga Cláudia Valli. Sendo assim, para a população preta do século XXI, resgatar essas histórias é fundamental para autoestima. “Estas artistas, pretas e pretos, são a base da cultura e da sociedade brasileira. E fazem ecoar para sempre um recado: nós temos legado!”, afirma o diretor Luiz Antônio Pilar.
CIRCUITO LIBERDADE
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
SERVIÇO
“Os Irmãos Timótheo da Costa”
Data: de 24/10 a 17/11, de sexta a segunda
Horário: 20h
Duração: 90 minutos
Local: Teatro I do CCBBBH - Praça da Liberdade, 450 – Funcionário
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.
Classificação indicativa: 12 anos
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