Em "escolher falar de amor não cessará nenhuma bomba", livro lançado no dia 23 de agosto, Daisy Serena traz o que vivenciou em um corpo de mulher negra, mãe solo, filha adotada. Influenciada pelos movimentos spiritual jazz e free jazz, sua poesia atravessa temas urgentes com delicadeza radical: o banzo histórico da escravidão e o banzo íntimo de não conhecer sua mãe biológica; o lugar de marginalização que os afetos impõem às mulheres negras e com o afeto da comunidade é um lugar que toma a frente, como uma consciência de que esses corpos merecem amor.
Em 'Black Music: Free Jazz e consciência negra - 1959-1967' (2023), Amiri Baraka revela que o jazz é uma forma de expressão particular, "um conjunto de atitudes sobre o mundo, e apenas secundariamente uma forma de fazer música.". O que interessa, sobretudo, é a forma como improvisamos diante dos desafios e como nos relacionamos com os nossos pares, respeitando o que é individual dentro da coletividade.
O free jazz, com sua ruptura de formas, encontra ressonância na escrita da autora: um movimento anti domesticação colonial atravessado por afetos. Já o spiritual jazz, com suas raízes afro-diaspóricas e conexão com o sagrado, aparece como respiro de quem cultiva paz em meio à guerra estrutural do racismo e do abandono.
Vladimir Moreira, em Jazz e política da existência: a música de Félix Guattari (2024), mostra como o movimento musical pode ser também um caminho e uma referência ética para pensar a política, trazendo o universo do jazz e suas técnicas como prática de criação existencial e de busca por dignidade.
Como desdobramento do trabalho literário, a artista lança o álbum poético-musical ao lado da Rádio Diáspora, chega após o lançamento do livro auto-intitulado e conta com as participações da cantora franco-senegalesa Anaïs Sylla, do guitarrista Du Kiddy, do coletivo Quilha, a artista Carmim e do Dj Zebb. O trabalho musical será disponibilizado para o público no dia 21 de dezembro.
Este projeto foi realizado com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB); do Programa de Ação Cultural – ProAC, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo; do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Sobre Daisy Serena
Artista visual, fotógrafa, e poeta com estudos em Sociologia e Política na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Autora de Tautologias (poesia, Padê Editorial, 2016). Tem poemas publicados em revistas e páginas digitais como Escamandro, Chão da Feira, Pixé, Ruído Manifesto, Encontros com a Nova Literatura Brasileira Contemporânea do Itaú Cultural; WSQ: Solidão (Feminist Press, 2021), ve em diversas exposições: Tecituras de Tempo & Identidade (Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres Afro-latinas, no Sesc Interlagos, 2016) . Também participou das exposições coletivas FotoPreta (2018 e 2020) com curadoria do coletivo Afrotometria; Ocupação Olhares Inspirados: Raquel Trindade, Rainha Cabinda (2021), Intersecções, exposição com curadoria de Nabor Junior (2023), Afeto & Memória, projeto da fotojornalista Eliaria Andrade (2023), Chora Agora, exposição com curadoria da fraternidade Vilanismo (2023); Studio Solaura em Berlim (2022). Tem obras de diferentes linguagens visuais publicadas em revistas digitais como Menelick 2º Ato, Doek! (Namíbia), Nossa Revista e Garupa.