Com sabedoria e cuidado para caminhar por gerações, o mestre Damião Calixto celebra seus 79 anos de idade, vida e existência. Ele é a continuidade, juntamente com o irmão e mestre Assis Calixto, do grupo Samba de Coco Raízes de Arcoverde, fundado em 1992 por seu irmão Lula Calixto (1942-1999). O outro irmão é Raimundo Calixto, sendo Damião o caçula. Patrimônio Vivo de Arcoverde e Cidadão Arcoverdense, Damião é cantor, compositor, músico, pandeirista, arte-educador e produtor do Festival Lula Calixto, realizado anualmente no Alto do Cruzeiro, em Arcoverde, e do Mistura de Raça, escola de samba arcoverdense.
A celebração do seu aniversário aconteceu justamente no centro de Arcoverde, exatamente na Praça Winston Siqueira (Virgínia Guerra), no último domingo (19 de outubro). Da comunidade Rio Barra, na cidade de Sertânia, Sertão de Pernambuco, Damião Calixto Montenegro e família Calixto chegam em Arcoverde no ano de 1952. O nome da sua mãe é Leopoldina Faustina dos Anjos e o pai tem o nome de Felisberto Calixto Montenegro. Damião é pai de dez filhos, além de ter 22 netos e oito bisnetos.
Ele vive em Arcoverde, a terra do samba de coco, há mais de 70 anos, morando nos bairros Boa Vista, São Geraldo e Sucupira, respectivamente. No Sucupira, onde Damião mora com a família, está o Recanto do Coco, local que já foi sede do Coco Raízes de Arcoverde, atualmente no Alto do Cruzeiro. Em 2023, o mestre recebe o título de cidadão arcoverdense, concedido pela Câmara de Vereadores de Arcoverde.
Damião é brincante desde criança. Aos oito anos de idade, ele estava nas rodas de coco da Batalha, na área rural de Arcoverde. Seus próprios irmãos Raimundo e Lula foram as inspirações de Damião para a música. Ele viveu com Lula Calixto em rodas de coco arcoverdenses que aconteciam na casa de José Machante, Alfredo Sueca, Benedito Guimarães, João Preto, Chica Maná e Ivo Lopes. Ficou marcada em alguns desses encontros a construção de casas de taipa durante momentos de canto e dança.
Damião Calixto complementa a história dos irmãos, a da existência da roda de coco, que tinha o nome de Mazuca, surgindo como uma dança de trabalho coletiva, feita para pilar o chão de barro das senzalas. Ele conta que todo mundo mexia no barro para pilar o chão da casa, depois espalhava e à noite pisavam o barro para ficar duro como cimento bem pisado. Ele diz que o ritmo se chamava Mazuca. Hoje é o coco, seja trupé, ciranda, beira de praia etc.
A curiosidade pela brincadeira, com olhares e gestos na própria infância, está ligada à educação infantil como formadora de multiplicação dos saberes. Seu Damião aprende a essência ainda criança, a partir do interesse de conviver com os irmãos, e compartilha conhecimentos em vida sobre a cultura popular.
A respeito da música, Damião diz que é difícil ter alguém da família Calixto que não saiba tocar e dançar, sendo uma formação geracional que está na raiz e dentro do coração familiar. São multiplicadores, como o seu filho adulto Danilo Calixto, também pandeirista do Coco Raízes de Arcoverde, e multiplicadoras do povo do sertão, da cultura popular, da cidade de Arcoverde, do interior do Estado de Pernambuco, pelo Brasil e mundo afora, por meio da essência artística.
Uma arte que transformou o mestre Damião Calixto é a do saber fabricar e aprender a tocar pandeiro, instrumento referência do Coco Raízes de Arcoverde. Também em parceria com o filho Danilo é facilitador das oficinas do Coco Raízes, com presença nas escolas, universidades e atividades artístico-culturais integradas ao grupo. O neto João Pedro, filho adolescente de Danilo, toca caixa e tarol na Banda de Pífano Santa Luzia, de Arcoverde. Seu bisneto adolescente Douglas Calixto Montenegro também toca pandeiro e todos os outros instrumentos percussivos, além de mestre do Maracatu Batuque do Sertão, pioneiro de baque virado em Arcoverde, e componente do Coco Raízes de Arcoverde.
Damião Calixto começou a fazer e a tocar pandeiro assim que chegou a Arcoverde, na década de 50. Seu primeiro pandeiro é feito com uma lata de doce. Na ocasião, morava no bairro da Boa Vista e ajudava a sua mãe Leopoldina nas lavagens de roupa, enchendo e transportando baldes d’água. Na sequência, foi morar com ela no bairro de São Geraldo. Depois que a sua mãe encantou-se (1959), comprou uma casa no bairro de Sucupira, onde mora até hoje. A família Calixto chega ao Alto do Cruzeiro em 1963.
Damião está em sintonia com a canção na maior parte do tempo, acompanhado por uma caixinha de som conectada ao pen drive, o que o deixa tão leve quanto os seus pandeiros de 12 polegadas, o de maior número do respectivo instrumento. Também tem como paixões o rádio, a informação, a comunicação e o pertencimento a partir da localidade.
Juntamente com Lula Calixto e Iran Calixto, filha de Damião, ele exercia a função de produtor do Coco Raízes de Arcoverde. A captação de shows e apresentações, à época, era realizada sempre com a prefeitura e festividades locais. A ação de captar em sua maioria foi feita por Damião. Após a morte do irmão Lula, ele seguiu com Iran nesta produção, ainda ligada à prefeitura.
Com o avanço da tecnologia, Damião viu a filha Iran acompanhar a era digital, sendo ela a liderança da manutenção do grupo, visto que internet é uma das principais formas para a contratação de shows. Além do mais, o próprio grupo conseguiu acessar projetos via editais públicos.
Além do coco, o samba é uma paixão do mestre Damião Calixto. À frente do Mistura de Raça, organiza o cortejo junto com seus filhos, netos e bisnetos. O grupo existe desde 2010. Foi fundado por Fernando Padilha, já falecido. Ao lado de Bibi, Damião fez o resgate do Mistura de Raça, que sai desfilando com releituras de sambas clássicos pelas ruas de Arcoverde.
A conexão de Damião Calixto com o samba começou no carnaval de Arcoverde, de 1965 a 1980, nos bairros São Geraldo, São Cristóvão, Boa Vista e Bandeirantes. Ele foi mestre-sala e também tocava nas escolas de samba arcoverdenses, ao lado de mais de 100 batuqueiros, e das cidades vizinhas, como por exemplo em Pesqueira, na Escola de Samba Águia Dourada. Ele foi campeão oito vezes no desfile de frevo, marcando passo no carnaval. Até hoje, o mestre tem na cabeça cocos, toadas e frevos que estão na memória do período carnavalesco.
Assim como o frevo, o maracatu está presente na vida de Damião, tendo o tambor como identificação. Em Arcoverde, ele teve vivências no terreiro de Dona Menininha, onde gostava de tocar tambor. Seu Damião traz, no dia a dia, a narrativa da resistência das memórias ancestrais.
Mestre Damião Calixto é o símbolo da ancestralidade do Coco Raízes de Arcoverde por meio da música e poesia com influência afroindígena e de matriz africana. Ele diz que muitas vezes está tocando coco e ao mesmo tempo na sua cabeça reproduz cânticos e toadas do candomblé.
Damião canta e toca histórias com a família, formando assim o grupo que é composto por Assis Calixto (cantor, compositor e musicista), Dayane Calixto (dançarina e musicista), Damares Calixto (cantora e musicista), Ilma Calixto (cantora), Kell Calixto (cantor, dançarino e musicista), Iranildo Cavalcanti (dançarino), Black Calixto (cantor, dançarino e musicista), Danilo Calixto (pandeiro), Françua Gomes (surdo - instrumento), Douglas Montenegro (cantor, dançarino e musicista) e Joana D’arc (cantora e musicista).
Como compositor, Damião Calixto tem duas músicas registradas nas plataformas digitais do Coco Raízes de Arcoverde. São elas: “Roseira, Oh Rosá!” e “Não Brinco Mais”, ambas do segundo disco do grupo, o “Godê Pavão”, lançado em 2003.
Desde 1992 propagando a arte ancestral de sambar coco pelo mundo, o Coco Raízes foi formado pelas famílias Calixto, Lopes e Gomes, permanecendo até hoje com o legado de Lula Calixto. Damião rodou com o grupo o Brasil e a Europa, tocando e realizando oficinas em países como Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Itália e Noruega. A turnê internacional aconteceu no ano de 2006. Neste ano de 2024, foram duas temporadas em São Paulo com o Coco Raízes, a primeira no mês de maio e a outra em setembro.
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