Violência De Gênero Em Moçambique: ONG E Governo Preocupados Com Diferença Nos Números
Organizações e o Governo moçambicano expressam preocupação com os casos de violência de gênero no país, embora divirjam nos números. Segundo o Governo, nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados 9.089 casos de violência baseada no gênero em todo o território nacional. No entanto, o projeto RESISTIR, uma organização não-governamental nacional, garante que mais de 9 mil casos foram registrados, neste mesmo período, somente na província de Nampula.
"Atenção: Estes casos foram os que chegaram nas mãos das autoridades policiais [do conhecimento do projeto RESISTIR]. Há milhares de casos que já aconteceram, mas que não chegaram nas mãos da polícia porque a comunidade preferiu ocultar", explica Elisabeth José, coordenadora do projeto em Nampula.
Divergência De Dados E Redução Que Não Conforta
Os dados do Governo são diferentes. Mariza Nhagungue, do departamento de atendimento à família e menores de vítimas de violência doméstica no Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), aponta inclusive para uma redução dos casos este ano em relação ao período homólogo em 2024, de 9.250 para 9.089 casos registrados em todo o país.
Ainda assim, o Executivo está preocupado com o fenômeno, garante Nhagungue: "Esta redução não nos deixa confortável. Estamos cientes de que a violência ocorre nas famílias e há necessidade de elas denunciarem e se aproximarem dos nossos serviços."
Vítimas Homens E A Importância Da Denúncia
De acordo com os dados do gabinete de atendimento à família e menores de vítimas de violência doméstica, dos cerca de nove mil casos registrados, mais da metade foram denunciados por mulheres.
Mariza Nhagungue diz que os homens denunciam pouco, na sua opinião, por vergonha.
"Preocupa-nos a questão dos homens", afirma. "São poucos os homens que estão a denunciar, por isso queremos apelar para que os homens possam denunciar. Estamos preparados para dar todos os apoios necessários às vítimas."
Para o Governo e a sociedade civil, a falta de denúncia é um dos maiores problemas. Por isso, lutam juntos para erradicar o fenômeno.
Recentemente, o Ministério do Interior, através do Comando-geral da PRM, juntou várias entidades que trabalham no combate à violência doméstica para definir medidas concretas. A sensibilização contínua nas comunidades foi uma das ações acordadas.
Elisabeth José diz que a sua organização está a intensificar os esforços nas comunidades.