Setor De Estética Perde Bilhões Em Receitas Por Falta De Investimento Na Beleza Equitativa
O aclamado espetáculo “O Sapateiro Ruço”, com base em um conto de Tchekhov, iniciará uma nova temporada no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Uma análise da McKinsey Quarterly, presente no relatório “Representatividade negra na indústria da beleza”, indica que aproximadamente US$ 2 bilhões em lucros estão sendo desperdiçados. Este montante está “parado” devido à escassez de investimento na chamada beleza equitativa.
Com o avanço da descolonização estética, o segmento tem visto a saída de uma parcela significativa de clientes negras. Muitas delas estão insatisfeitas com procedimentos e produtos que não atendem adequadamente às necessidades e aos diferentes tons de pele do público afro-brasileiro.
O descontentamento encontrado neste mercado tem ganhado notoriedade por meio de discussões e campanhas realizadas durante o Novembro Negro. Este é o mês dedicado à reflexão sobre a identidade, a representatividade e a equidade racial. Essa mobilização reflete uma transformação no comportamento, como apontado pela Mintel em 2023, quando 46% das mulheres negras afirmaram estar exaustas de receber instruções sobre como deveriam se parecer.
Especialização Em Pele Preta E Tendências Globais
Nesse cenário de transformação, os tratamentos de estética no Brasil ganharam um novo propósito, atuando como ferramentas de reforço à autoestima e à identidade afro-brasileira. Para dar uma dimensão do potencial desta área, dados cruzados da Market.Us e InsightAce Analytic sugerem que o mercado global de beleza negra deve atingir entre US$ 31 bilhões e US$ 34 bilhões até 2034, com um crescimento anual previsto entre 8% e 14%.
A biomédica esteta Jéssica Magalhães, que acumula dez anos de atuação com especialização em pele preta no Brasil, confirma que a demanda por tratamentos individualizados aumentou de forma considerável. Isso se deve ao interesse crescente por procedimentos que, de fato, respeitem os traços e a identidade específicos deste tipo de pele. “O mercado está mais atento à representatividade, mas ainda existe uma lacuna entre o que é oferecido e o que a pele negra realmente necessita. É uma oportunidade enorme para transformar procedimentos em experiências de valorização e empoderamento”, destacou a profissional.
Cuidados Personalizados E Consciência
Segundo a especialista, cada cliente exige uma abordagem individualizada, e o processo de valorização da pele negra transcende a simples aplicação de produtos. Para assegurar resultados naturais e seguros, é crucial realizar uma avaliação detalhada da tonalidade, da textura, da densidade de colágeno e da reação da pele a diferentes ativos. “É essencial conhecer como a pele negra reage a cada substância; se o objetivo é hidratar, uniformizar o tom ou trabalhar contornos. Um planejamento cuidadoso evita pigmentações indesejadas e resultados artificiais”, esclareceu Jéssica.
A profissional considera que o Novembro Negro tem servido como um acelerador para mudanças no mercado de estética. Essa pressão tem levado clínicas e profissionais a revisarem seus protocolos e produtos. A especialista, por exemplo, ajusta constantemente suas técnicas, combina procedimentos e testa novas abordagens em seus atendimentos. Atualmente, ela realiza o tratamento de figuras conhecidas como Tarsila Alvarindo, Val Benvindo e Najara (NBlack).
Jéssica Magalhães também enfatiza a importância de aliar os cuidados estéticos profissionais a rotinas de vida saudáveis em casa, incluindo o uso de protetor solar, hidratação constante e a utilização de produtos compatíveis. "O cuidado contínuo é tão importante quanto o procedimento realizado no consultório. Quando aliados a tratamentos personalizados, esses cuidados ajudam a prolongar os efeitos, manter a saúde da pele e reforçar a autoestima. O Novembro Negro é um momento de reflexão, mas também de ação, já que valorizar a própria pele é celebrar a ancestralidade e fortalecer a identidade", finalizou.
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