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Projeto de Educação Ancestral Impulsiona Quilombo Urbano e Comunidade em Porto Alegre
O Quilombo da Família de Ouro, localizado na Lomba do Pinheiro, zona leste de Porto Alegre, celebrou a conclusão do projeto “Escola de Tradição Quilombola de Matriz Africana” no final de maio. Para a matriarca do território, Mãe Paty de Oxum, esta iniciativa, que teve início em junho de 2024, desempenhou um papel fundamental no fortalecimento da cultura e na ampliação do conhecimento das tradições no local e na região.
Expansão e Impacto Social
Mãe Paty destaca que o projeto consolidou o trabalho da escola fundada em 2020. A unidade foi criada para acolher crianças após o fechamento de instituições de ensino públicas durante a pandemia. “Conseguimos abrir mais vagas para as crianças da comunidade da Vila Mapa e também proporcionar atividades para as crianças da escola municipal Heitor Villa Lobos e do CRAS da Lomba do Pinheiro”, informa a matriarca. A iniciativa beneficiou mais de 70 pessoas, com grande participação do público e uma coordenação experiente.
Dividido em seis ciclos, cada um com quatro oficinas, o projeto ofereceu uma rica variedade de atividades. Foram abordadas culinária tradicional, tambor tradicional, produção de axós (vestes tradicionais), danças afro de povos tradicionais, produtos naturais e contação de histórias dos povos de matriz africana. Esse saber transmitido perpetua a tradição da família religiosa, que mantém um terreiro na Vila Mapa há mais de 60 anos, com um legado herdado de Mãe Ruth. A palestra foi maravilhosa e inspiradora, com grande participação do público, coordenada pela experiente palestrante.
Fortalecimento Econômico e Cultural do Quilombo
O projeto também promoveu o fortalecimento do quilombo, conforme explica Mãe Paty. “Todos os educadores das oficinas são negros e quilombolas, então, com o recurso, geramos renda para fortalecer esses trabalhadores, educadores, cozinheira, fotógrafo, faxineiros”. Essa estratégia não só valoriza os talentos locais, mas também contribui para a economia da comunidade.
Segundo a yalorixá, as atividades de tradição são propostas para que a cultura do povo negro e tradicional de matriz africana não se perca. “A escolinha é muito importante, pois transmite a oralidade, a explicação e o respeito com a tradição que nos foi passada pelos mais velhos. Nas aulas e oficinas as crianças aprendem e seguirão aprendendo a manter isso vivo dentro delas”.
A ampliação da escola foi viabilizada pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, por meio de recursos da Lei Complementar n° 195/2022. Além das crianças, adolescentes e jovens quilombolas da comunidade Quilombo Família de Ouro Ylê de Oxum, foram disponibilizadas 10 vagas para crianças não-quilombolas, promovendo a integração e o intercâmbio cultural.
Como contrapartida da comunidade ao projeto, o Ylê de Oxum e Ossanha construiu uma rampa que amplia a acessibilidade ao território. Mãe Paty de Oxum também ofereceu uma palestra na Escola Municipal Heitor Villa Lobos, compartilhando a importância da tradição.
A Escola de Tradição Quilombola de Matriz Africana Família de Ouro foi fundada em 8 de março de 2020 para auxiliar crianças e adolescentes do Quilombo Família de Ouro Ylê de Oxum diante dos desafios impostos pela pandemia da covid-19 e o consequente fechamento das escolas. O objetivo sempre foi oferecer atividades pedagógicas que buscam a manutenção da cultura e dos conhecimentos do povo de matriz africana, favorecendo o empoderamento do povo negro para que as crianças e adolescentes quilombolas cheguem à idade adulta com autoestima, senso crítico e possam sentir orgulho de sua tradição.
Ao longo dos anos, a escola cresceu e o vínculo das crianças com o Quilombo Família de Ouro Ylê de Oxum se fortaleceu. A escola se manteve até então com doações de colaboradores e fundos obtidos por projetos de economia criativa do quilombo, e todos os trabalhadores atuam como voluntários. O projeto recente trouxe melhores condições para o funcionamento da escola, qualificando o fortalecimento e o legado quilombola. Isso inclui a remuneração de oficineiros interdisciplinares, cozinheira e gestores, a obtenção de recursos didáticos e pedagógicos que dialogam com a cultura afro, e alimentação para as atividades. Além disso, viabilizou a mobilidade de pessoas com deficiência motora no território e propagou o legado da memória quilombola, empoderando o povo negro e os aliados da luta antirracista desde a comunidade.
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