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Sexta-feira, 23 de Maio de 2025

Negras e Negros

Bongarbit cria instrumentos percussivos digitais na comunidade da Xambá

Daniel Lima
Por Daniel Lima
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Bongarbit cria instrumentos percussivos digitais na comunidade da Xambá
Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo
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O Bongarbit nasce no Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá, dentro da comunidade da Xambá, em Olinda/PE. O ponto de partida da ideia autoral é o acreditar na cultura popular de rua como fonte de inspiração para pesquisas científicas e tecnológicas. Sendo assim, três instrumentos percussivos foram criados coletivamente no laboratório ancestral da Xambá: “Agbaixo”, “Agbau” e “Botões Falantes”. Essas novas descobertas musicais estão diretamente conectadas com a história, as memórias e as tradições da respectiva localidade periférica.  

Todas as invenções também são guiadas pela ciência e tecnologia, sendo utilizadas como ferramentas de resistência e renovação da cultura. Além disso, as criações dos instrumentos por meio de recursos digitais contribuem para a construção de um mundo onde caiba ainda mais a diversidade humana que existe no planeta, sobretudo no que é coletivo na arte, cultura, educação, política e social. Este projeto tem o incentivo do Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura), Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e Governo do Estado de Pernambuco. 

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Inclusive, o “Agbaixo” e o “Agbau” são originários de uma cabaça (elemento da ancestralidade), enquanto o instrumento “Botões Falantes” é feito com materiais reciclados, como resto de canos PVC e sobras de madeira. O desenvolvimento do “Agbaixo”, do “Agbau” e dos “Botões Falantes” se deu durante uma parte da pesquisa de doutorado do produtor cultural João Tragtenberg, no departamento de Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Juntamente com Thúlio Xambá, uma das lideranças do Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá, realizou a oficina “Novos instrumentos musicais de percussão”. 

"Botões Falantes": é feito com materiais reciclados, como resto de canos PVC e sobras de madeira
"Botões Falantes" no Baobá da Xambá: o instrumento é feito com materiais reciclados, como resto de canos PVC e sobras de madeira -
Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo 

 

A partir dessa formação criou-se o “Bongarbit: laboratório de tecnologias digitais da Xambá”, dando continuidade à pesquisa e ao desenvolvimento dos novos instrumentos musicais. Vale reforçar que toda a produção partiu do legado instrumental do quilombo urbano da Xambá, referência para o universo das percussões da música afro-brasileira, destacando assim a memória do que veio antes como base para criar o novo. 

“A Xambá tem o reconhecimento de primeiro quilombo urbano do Nordeste e a arte-educação como instrumento de memória, resistência, celebração e, sobretudo, de ancestralidade. Conectado com a tradição e a história dessa comunidade, o Bongarbit proporciona o acesso à criação tecnológica e às novas possibilidades digitais”, reforça Thúlio. 

Na foto, o "Agbaixo" - os instrumentos foram testados no próprio território da Xambá, no Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá
Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo

 

O Bongarbit se apega ao contexto cultural imaterial ligado aos instrumentos, como gestos, sons, materialidades e corporalidades. Com essas narrativas, o coletivo acessa o que existe musicalmente e na cultura desse quilombo urbano. O propósito é sempre de estimular a criatividade para pensar como é possível ter novas formas de se fazer música. 

“Esses instrumentos digitais nascem interligados com o respeito e a origem da história cultural do território da Xambá. Criamos os instrumentos digitais por meio de um processo de design participativo das pessoas da própria comunidade da Xambá, nos inspirando na materialidade de instrumentos tradicionais, além de trazer para o conceito o imaginário das pessoas que participaram da oficina”, declara João Tragtenberg. 

"Agbaixo”: é feito de uma cabaça (elemento ancestral) que permite a fusão entre os toques de percussão e as linhas do contrabaixo
Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo

 

Os instrumentos foram testados no próprio território da Xambá durante uma apresentação do Grupo Bongar e ao longo de um encontro do Boi Marinho, liderado por Helder Vasconcelos, com o “Boi Quebra Coco”, da Xambá. Além do mais, as criações percussivas digitais têm sido apresentadas e acessadas tanto pela comunidade como por estudantes, professoras, professores, arte-educadores, artistas, graduandas, graduandos e pelo público geral, com todos os encontros ocorrendo no Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá.

Parte do processo do Bongarbit também incluiu a gravação dos sons dos samples dos instrumentos tradicionais, valorizando as variações orgânicas com todas as riquezas e sutilezas dos seus sons. Este momento aconteceu no estúdio Carranca, na Zona Norte do Recife (bairro da Torre), com a presença de musicistas da Xambá, que gravaram na ocasião. 

“Para criá-los, realizamos oficinas e encontros coletivos no centro cultural, onde ocupamos e temos como um laboratório de arte, uma universidade. Nessas vivências, acessamos diversos instrumentos digitais, como sintetizadores e samplers, e instrumentos experimentais criados previamente por João Tragtenberg como parte de sua pesquisa no ‘Batebit Artesania Digital’. A exemplo do Giromin (é fixado no corpo e produz sons com gestos livres, sendo usado em dança e música) e do Controllerzinho (controlador MIDI -  dispositivo que permite controlar instrumentos musicais digitais, softwares de gravação e sintetizadores). A intenção foi dar referências do que poderia ser feito”, conta Thúlio Xambá.

O Bongarbit tem entre seus objetivos a conexão com as escolas e instituições públicas e privadas, terreiros e universidades, para apresentar, dialogar, facilitar e trocar vivências sobre os instrumentos percussivos digitais. Por meio da realização de oficinas nesses espaços, possibilita-se o compartilhamento e ampliação do acesso para novas pessoas.  

A Xambá tem o reconhecimento de 1º quilombo urbano do Nordeste e a arte-educação como instrumento de memória, resistência, celebração e ancestralidade
Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo

 

A ficha técnica do projeto é composta pelas seguintes funções e profissionais: produção executiva (La Esencia Experiências Culturais/Laura Proto); coordenação de pesquisa (João Tragtenberg e Thúlio Xambá); monitoria (Ninho Brown e Henrique Bongar, conhecido também como PH Silva); educador somático (Orun Santana); inventores/criadores dos instrumentos (João Vitor Veras dos Santos, Yngrid Bongar, Tainá Hirlley, Henrique Bongar, Ninho Brown, Thúlio Xambá, Joheliton Miranda (Jota), Tarta de Melo e João Tragtenberg); desenho de som (Miguel Mendes e TomBC); luthier de instrumentos tradicionais de percussão (Iran Silva); fotografia (José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo); captação e edição de vídeo (José Carbonel/Manguecrew); mídias sociais (aline sou); assessoria de imprensa (Daniel Lima). 

Instrumentos digitais para o Carnaval de rua pernambucano

Seu objetivo é contribuir para a renovação do carnaval pernambucano e valorizar a manutenção dos princípios das tradições da folia. Com isso, existe um grupo dentro do Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá realizando pesquisa de instrumentos para os futuros carnavais de rua. 

O que é cada instrumento percussivo digital 

“Agbaixo”: é feito de uma cabaça (elemento ancestral) que permite a fusão entre os toques de percussão e as linhas do contrabaixo, com o uso de botões para soltar samples de instrumentos percussivos na mão direita e, como em uma sanfona de oito baixos, de notas graves captadas de um sintetizador de um contrabaixo. 

"Agbau": é uma variação do “Agbaixo”, com toques de sons de um berimbau nos “baixos” da mão esquerda. 

“Botões Falantes”: é feito com materiais reciclados, como resto de canos PVC e sobras de madeira, sendo tocado por meio de botões e da pressão na estrutura lateral do tambor, lembrando o instrumento africano “Tama” (também conhecido como "tambor falante").

FICHA TÉCNICA - BONGARBIT

Produção executiva: La Esencia Experiências Culturais - Laura Proto

Coordenação de pesquisa: João Tragtenberg e Thúlio Xambá

Espaço de pesquisa: Centro Cultural Grupo Bongar - Guitinho da Xambá (Olinda/PE)

Monitoria: Ninho Brown e Henrique Bongar (PH Silva)

Educador somático: Orun Santana

Inventores/criadores dos instrumentos: João Vitor Veras dos Santos, Yngrid Bongar, Tainá Hirlley, Henrique Bongar (PH Silva), Ninho Brown, Thúlio Xambá, Joheliton Miranda (Jota), Tarta de Melo e João Tragtenberg

Desenho de som: Miguel Mendes e TomBC

Luthier de instrumentos tradicionais de percussão: Iran Silva

Fotografia: José Carbonel (Manguecrew) e Tarta de Melo 

Captação e edição de vídeo: José Carbonel (Manguecrew)

Mídias sociais: aline sou

Assessoria de imprensa: Daniel Lima

Gravação dos sons dos samples dos instrumentos tradicionais: estúdio Carranca (bairro da Torre, Zona Norte do Recife)

Incentivo: Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) e Governo do Estado de Pernambuco.

FONTE/CRÉDITOS: Foto: José Carbonel/Manguecrew e Tarta de Melo
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Daniel Lima

Publicado por:

Daniel Lima

Comunicador social & jornalista. De Caruaru/PE, criado no Recife. Atua com assessoria de imprensa artístico-cultural e atualmente é assessor de imprensa/mídias sociais do Coco Raízes de Arcoverde/PE.

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