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É organizando histórias com começo, meio e conclusão que a fotógrafa pernambucana Uenni conquistou o feito de ser a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas (2ª edição), na categoria Série Fotográfica, no ano de 2025, com a obra "Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco". Este ano, ela também realiza a segunda edição do “Terreirada em Cena”, uma formação gratuita em animação audiovisual, por meio da técnica stop-motion, que cria a ilusão de movimentos a partir de uma série de fotografias. A vivência coletiva é para pessoas de terreiros de religiões de matriz afroindígena e das comunidades.
De origem periférica, a artista atua como arte-educadora das atividades artístico-culturais do projeto. A formação acontece no mês de maio (dias 10, 17, 24 e 31/05), com quatro encontros presenciais no Ilé Àṣẹ Ọmọ Omi Sagbà – Casa das Águas (no bairro de Mangabeira, Zona Norte do Recife), sempre das 8h às 16h. A estreia ocorre neste sábado (10/05). A ideia do “Terreirada em Cena” surgiu após uma inquietação de Uenni, nascida e criada na comunidade de Santo Amaro (Recife). Na sua percepção, diversos filmes sobre terreiros são dirigidos por pessoas que pouco ou nada conhecem da realidade desses espaços.
“O objetivo do ‘Terreirada em Cena’ é ampliar o acesso das comunidades tradicionais à linguagem audiovisual, fazendo com que as pessoas contem suas histórias com o próprio olhar. O propósito aqui é outro: formar quem já está dentro da comunidade, para que as pessoas possam contar suas próprias vivências. Observo que, muitas vezes, a direção dos filmes é feita por alguém que está pisando num terreiro pela primeira vez justamente no momento da filmagem”, explica.

Foto: Uenni
Com carga horária total de 32 horas, o “Terreirada em Cena” possibilita às pessoas vivenciarem todas as etapas da criação de um curta-metragem em stop-motion, partindo da concepção do roteiro e indo até a edição e a finalização. Todo esse processo, a partir da coletividade, reúne uma diversidade comunicacional, com o cronograma distribuído por temáticas: introdução ao stop-motion e roteiro; fotografia, som e modelagem; animação na prática; edição e finalização. A formação une prática e teoria com foco no experimentar, na oralidade e também na troca entre gerações.
“Esta é a primeira vez que a gente escolhe a linguagem do stop-motion, mantendo o uso do celular como principal ferramenta de filmagem e simultaneamente dando uma autonomia para os processos criativos. É importante buscar facilidades durante a formação”, acrescenta.

Foto: Uenni
Para além da formação técnica, o “Terreirada em Cena” traz uma reflexão sobre a representação das culturas afroindígenas no cinema, valorizando saberes e práticas que ainda são invisibilizadas por aí. A vivência proporciona, ao mesmo tempo, uma construção crítica e educativa a respeito da ancestralidade. Vale destacar que, durante os encontros, habilidades criativas são desenvolvidas juntamente com temáticas racial, social, política, cultural e educativa.
“A gente trabalha com terreiros que cultuam orixás e também com os que cultuam a jurema, que tem raízes indígenas. Por isso, atuamos também na valorização do patrimônio cultural afroindígena de Pernambuco”, pontua.

Foto: Uenni
A inscrição para a 2ª edição do “Terreirada em Cena” foi gratuita, sendo concluída no dia 25 de abril. Foram abertas 30 vagas. As pessoas inscritas têm alimentação garantida nos encontros: café da manhã e almoço. A lista de contemplações reúne Alân Saymon, Alex Dias, Antônio, Arion, Dayane de Freitas, Érico Barreto, Evelly Vitória, Cammy Silva, Hellen Evelyn, Izaura Farias, Jai de Santana, Jacqueline, José Lucas, Laion Alves, Layane Fabíola, Nino do Espírito Santo, Liz Nunes, Luana Grasiela, Marcella Rocha, Mateus Melo, Michelly Kelly, Nailah Meneses, Obailê, Rafael Cabral, Raysa Rosa, Sandro Barros, Susan, Taciana (Preta), Thuanye Maria e Vique Feijó.
Na 1ª edição, realizada em três terreiros da Região Metropolitana do Recife (RMR), o documentário e o docuficção entraram em cena, com 46 das 60 pessoas inscritas concluindo a formação. O dado reforça o interesse e valoriza o engajamento das comunidades em relação ao tema audiovisual. Outro destaque, na ocasião, foi a diversidade etária das pessoas, com crianças de cinco anos de idade e idosos de até 79 anos.
“Essa troca entre gerações é muito importante porque o terreiro é também um lugar de oralidade, onde os mais velhos aprendem com os mais novos e vice-versa”, complementa.

Foto: Uenni
Ainda na edição de abertura, contribuíram os terreiros Ilê Axé Ayrá Omin Kaia Lofim, Ilé Iyemojá Ògúnté e Ilé Àṣẹ Ọ̀rìṣànlá Tàlàbí, que têm ligações pessoais e espirituais com a própria realizadora Uenni.
Premiação
O Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, conquistado por Uenni em janeiro de 2025, é organizado pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura do Governo Federal.
Terreiro
Nesta 2ª edição do “Terreirada em Cena”, o Ilé Àṣẹ Ọmọ Omi Sagbà atua por iniciativa própria, reconhecendo a importância da formação audiovisual como forma de registro, preservação da história e resgate da memória e da sua atualização com a realização da iniciativa.
Fundado em 1986 por mãe Dora de Iemojá Sagbà, referência do culto Nagô Egbá, o terreiro é atualmente conduzido por seus netos, Iyàlórisà Isabelle Caldas e Ogà Elivelton Caldas, que mantém viva a tradição como espaço de fé, aprendizado e fortalecimento comunitário.
Terreirada em Cena – formação: stop-motion no terreiro
Datas: 10, 17, 24 e 31 de maio de 2025
Horário: Das 8h às 16h (com café da manhã e almoço)
Local: Ilé Àṣẹ Ọmọ Omi Sagbà – Casa das Águas (rua Campo Alegre, nº 220 – Mangabeira, Recife/PE)
Lista das 30 pessoas contempladas: Alân Saymon, Alex Dias, Antônio, Arion, Dayane de Freitas, Érico Barreto, Evelly Vitória, Cammy Silva, Hellen Evelyn, Izaura Farias, Jai de Santana, Jacqueline, José Lucas, Laion Alves, Layane Fabíola, Nino do Espírito Santo, Liz Nunes, Luana Grasiela, Marcella Rocha, Mateus Melo, Michelly Kelly, Nailah Meneses, Obailê, Rafael Cabral, Raysa Rosa, Sandro Barros, Susan, Taciana (Preta), Thuanye Maria e Vique Feijó.
Terreirada em Cena (2ª edição) - confira a programação e o cronograma por temas
10 de maio – introdução ao stop-motion e roteiro
Manhã: apresentação dos conceitos básicos de stop-motion, o que é e como funciona, análise de curtas e animações como inspiração, materiais e ferramentas necessárias.
Tarde: desenvolvimento de roteiro, planejamento de cenas, criação de storyboard.
17 de maio – fotografia, som e modelagem
Manhã: técnicas básicas de fotografia para stop-motion, fundamentos de enquadramento, iluminação e foco, equipamentos recomendados (câmeras, tripés, aplicativos), introdução à captação de som, uso de microfones externos e gravadores de áudio.
Tarde: criação e modelagem de personagens, técnicas de modelagem e design para stop-motion.
24 de maio – animação na prática
Manhã: aplicação de técnicas de animação com os conceitos aprendidos, experimentação com iluminação, fotografia e som.
Tarde: continuação da animação, aplicação das técnicas com os conceitos aprendidos, novas experimentações com iluminação, fotografia e som.
31 de maio – edição e finalização
Manhã: organização das imagens, sincronização de áudio, aplicação de efeitos.
Tarde: refinamento do trabalho realizado, preparação do material para o corte final, revisão das animações, identificação de pontos de melhoria, ajustes finais e exportação do corte final.
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