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Quinta-feira, 06 de Fevereiro de 2025

Cultura Preta

Após quase 30 anos na banda Baiana OQuadro, o cantor Nego Freeza lança seu primeiro álbum solo

Lucas Silva
Por Lucas Silva
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Após quase 30 anos na banda Baiana OQuadro, o cantor Nego Freeza lança seu primeiro álbum solo
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Hoje (27), o cantor Nego Freeza lançará em todas as plataformas digitais o seu primeiro álbum solo de estúdio. Intitulado 'Icyerekezo'', nome dado ao satélite lançado em Ruanda, na África, que em Quiniaruanda - língua falada em Ruanda - significa ''Visão'', com o objetivo maior de conectar escolas rurais à internet. O álbum retrata a realidade do continente africano de uma maneira leve, com um olhar para quem deseja entender o passado e ao mesmo tempo sonhar com um futuro, onde a cultura africana não só resiste, mas também lidera com a beleza e com a força, onde é celebrada e respeitada. 

Confira: https://bfan.link/icyerekezo 

Com “Icyerenkezo”, Nego Freeza apresenta um disco que desde já apresenta caminhos para pensar a negritude brasileira dentro de uma ótica afro diaspórica, que toma o pensamento, as formas e figuras do continente como local de partida. Desta forma, faz todo o sentido que o título do disco que em português significa “visão”, tenha um satélite como signo. 

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Neste “satélite” lançado no universo por Nego Freeza, Icyerenkezo, tem como material constitutivo os seus mais de 20 anos de carreira como músico, pesquisador, DJ e MC. Fazendo o trabalho de captar e retransmitir sonoridades através de um flow e ideias esculpidas por sonoridades do Rap, do reggae, dos afrobeats, mas também da música popular e do rock’n roll. 

As 8 faixas presentes no disco, possuem uma estrutura como nos antigos LP’s de vinil, onde temos um lado A e um lado B. O trabalho artístico apresentado por Nego Freeza e as produções de Pupillo casam muito perfeitamente e nos trazem dois blocos distintos e complementares de afetos.

Algo que poderíamos resumir como a circularidade da música africana na diáspora, em formas e expressões. Onde a primeira metade passeia pela diversão autoafirmativa de uma negritude. E se complementa pelo diagnóstico das opressões, através de uma lírica resistente e 

intrincada. 

Entre o presente vivo e pulsante e uma concepção de tempo circular, a presentificação de uma distopia afrofuturista, rompe com a dicotomia entre entretenimento e arte. Em “Icyerenkezo”, Nego Freeza assume e trabalha junto às influências do funk carioca, de John Coltrane, e passeia nos universos de referência de Jorge Ben e Sun Ra. Indo além das citações, e incorporando ao material poético e sonoro essas influências sem perder a sua singularidade. 

Para além de fórmulas marketeiras, esta estreia solo é a expansão de um universo de vida e arte que Nego Freeza nunca entendeu como separadas. Vivendo desde o fim dos anos 90 no underground da música brasileira, mas com experiências em 

festivais históricos. O disco solo traz a luz de modo completo, um MC que conjuga o mais “baixo” das vivências da rua com o mais “alto” alcançado através do pensamento da negritude. Pois, como um homem preto de Axé, não separa o concreto do abstrato e sabe que as formas de pensamento europeu não lhe cabem. 

Prova disso é o single já lançado, “A Gente Pulsa”, que recebeu um simples e bonito “visualizer” conjugando batidas, rimas e dança, como o Hip-Hop surgiu. Carta de intenções e coração do disco, a música apresentou ao público uma sonoridade vibrante, dançante e um lírica e flow que apresenta o pensamento que governa, a construção na história e as geografias da música preta. 

A arte visual de “Icyerenkezo” ficou a cargo da premiada artista Aline Bispo que trabalhou dentro do seu estilo construindo uma capa de disco que impacta o ouvinte pela construção semiótica. De fundo vermelho, a simplicidade da imagem de punho negro segurando uma “espada de ogum” - Orixá do qual Nego Freeza é filho no candomblé - faz a conexão das lutas da diaspóra a espiritualidade africana. 

No campo das participações do disco, Nego Freeza e Pupillo contaram com os músicos Carlos Trilha que tocou os synths em “A Gente Pulsa” e do saxofonista Oswaldo Lessa (Marisa Monte, Larissa Luz, Afrojazz), que abrilhantou a faixa “Espaço Versos Universo”. Na parceria das rimas, Freeza convocou um dos maiores MC’s e cantores da história do Rap nacional: Matéria Prima (Quinto Andar, Subsolo), para a faixa “Meu Lar”. 

A riqueza presente em “Icyerenkezo” conta com um time de ponta e chega às plataformas digitais através da gravadora Cachoeira Music. A gravadora possibilitou que um dos grandes nomes do Rap nacional lançasse um dos discos mais plurais da história recente do gênero no país. Pluralidade que se expressa em ritmo e poesia com forte embasamento sonoro - através da mistura de gêneros - e liricamente com um escopo firme e muito consciente sobre o anticolonialismo. 

Um disco que em sua presença no cenário atual traz toda a força da resistência do passado diante dessa sinfonia do caos onde vivemos, nos alegrando e colocando para pensar sobre universos muitas vezes muito próximos de nós.

Nego Freeza como um verdadeiro Mestre de Cerimônias, abençoado por Ogum, e apoiado pelas criações de Pupillo nos leva a perceber as diversas tecnologias ancestrais que são nossa herança enquanto povo preto. Ogunhê! 

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Lucas Silva

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